terça-feira, 31 de maio de 2011

Projeto Sertão submerso - 1999

http://www.horizontegeografico.com.br/revista/edicao75/caverna4.shtml

Explorando as cavernas brasileiras
POR DENTRO DO BRASIL 
Nas águas subterrâneas
Equipe do Projeto Sertão Submerso desafia o perigo na Chapada Diamantina (BA) e explora as partes submersas das cavernas de Lapa Doce, Gruta Azul e Pratinha - 1999

Cinco horas da manhã e o sol começou a acobertar nossos carros que, silenciosamente, seguiam em direção às estradas desertas da Chapada Diamantina, na Bahia. Sete pessoas, sete destinos e experiências diferentes se juntaram para dar início ao Projeto Sertão Submerso, com o objetivo de mapear as cavernas Gruta Azul e Pratinha, famosas por se comunicarem por um conduto totalmente submerso. E, também, dar seqüência à exploração subaquática na Lapa Doce, trabalho iniciado dois anos antes pelo Projeto Hidro-Carste. Este estudo definiu exatamente a extensão do Poço Encantado, mapeou a Gruta Azul, coletou alguns exemplares do bagre albino e, principalmente, confirmou informações sobre a existência de fósseis da preguiça gigante.

Viajamos em três picapes, com uma parafernália de equipamentos que beiram uma tonelada de peso. Tudo para desafiar o mergulho em cavernas, atividade esportiva considerada uma das mais perigosas do mundo. No final da tarde de uma quinta-feira, após dois dias cortando os estados de São Paulo e Minas Gerais, chegamos na Gruta da Pratinha. Sílvio, dono das terras, nos recebeu com aquele calmo e baiano sorriso. Após descarregarmos os equipamentos, seguimos para Iraquara, típica cidade do interior baiano, onde passamos nossa primeira noite.

Nem bem amanheceu e fomos para a Pratinha iniciar os mergulhos. Cilindros, mangueiras e reguladores, refinados computadores de pulso, tabelas de descompressão e analisadores de gás aos poucos surgiram para a configuração dos equipamentos. No primeiro mergulho, pretendemos fazer o mapeamento, ou seja, utilizar as mesmas técnicas aplicadas em cavernas secas, medindo a distância com trenas e a direção dos condutos com bússolas. A declividade dos salões, medimos com clinômetro - aparelho próprio para medir a inclinação de um terreno em cavernas secas; embaixo d'água fizemos com profundímetro.

Matheus e Alexandre Adm, experientes mergulhadores, fizeram a primeira tarefa: a de posicionar o cabo-guia, conhecido por "cabo da vida". Trata-se de uma fina corda que indica o caminho de volta. É comum em cavernas a água ficar suja com sedimentos em suspensão, a tal ponto que os mergulhadores perdem a visibilidade. A dupla instalou também um outro cabo com pequenas bóias que servem como pontos-base para se tirar medidas. Esta função foi revezada entre Liana e Túlio, bióloga e cinegrafista, respectivamente. Já Tuta e Guilherme exploraram pequenos condutos com um tipo de configuração do equipamento chamado side-mount - os cilindros são fixados lateralmente ao corpo e não nas costas, como é normalmente usado. Eu fiquei responsável pela interpretação dos dados obtidos e acabamento final do mapa, além da documentação fotográfica.

Trabalhamos contra o fluxo da corrente, assim tivemos sempre águas transparentes à nossa frente. Começamos pela Pratinha e seguimos em direção à Gruta Azul.

Mergulho pioneiro
Terminado nosso trabalho na Pratinha, após quatro extenuantes dias onde todos fizemos um pouco de tudo, seguimos para a Lapa Doce. Sabíamos da existência de um grande lago na parte não turística da caverna. Os preparativos foram bem mais complicados: a entrada é distante e tivemos que caminhar alguns quilômetros na caatinga. Os equipamentos pareciam estar cada vez mais pesados!

Enquanto Matheus fez um mergulho solitário num pequeno conduto submerso, Tuta, Guilherme e Túlio se prepararam para o lago. Depois de uns 20 minutos, meus colegas voltaram com um semblante de êxtase e receio. Disseram que nunca tinham visto algo parecido! Eles entravam pelo conduto com aproximadamente dois metros de altura e flocos de sedimento do teto começaram a despencar. As bolhas de ar causaram esse deslocamento; provavelmente por eles terem sido os primeiros a mergulharem naquele lago onde a água não tinha nenhum tipo de movimentação. Repetiam que parecia estar nevando!

Infelizmente, era impossível prosseguir as atividades naquele lugar. Ao saber disso, o senhor Lima, dono das terras da Lapa Doce, apaixonado pelas cavernas que tem sob seus pés, falou com seu sotaque sereno: "Tem problema não, chegue mais que vou servir uma água geladinha na sombra do imbuzeiro". E assim fizemos, esquecendo por hora os dois mil quilômetros da viagem de volta e aprendendo como viver tranqüilo com os baianos. Afinal, pressa é uma palavra que a Bahia desconhece!

Gostaria de agradecer aos espeleólogos que participaram na produção das fotos, ajuda imprescindível para iluminar e documentar os salões das cavernas. 

Por: Adriano Gabarini 

http://www.horizontegeografico.com.br/revista/edicao75/caverna4.shtml

Projeto Sertão Submerso - 1999
Adriano Gambarini
O objetivo do Projeto Sertão Submerso é dar continuidade a um trabalho iniciado dois anos antes, na Chapada Diamantina, pelo então Projeto Hidro-Carste. Este teve o mérito de juntar os principais mergulhadores de caverna e de profundidade, conseguindo finalizar a exploração do trecho profundo do Poço Encantado e alguns condutos laterais, mapear a Gruta Azul do Milú, coletar alguns exemplares do bagre albino e confirmar informações sobre a existência de ossadas fósseis de preguiça gigante. Neste nova fase, o Projeto Sertão Submerso pretende mapear o sistema de cavernas Gruta Azul e Pratinha além de dar continuidade à exploração subaquática na Lapa Doce.
De forma descontraída, o artigo descreve as atividades da expedição, suas descobertas e imprevistos.

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