O Segredo do Barão
O Desafio da Padoca começa no Vale do Paraíba, a partir do posto Castelão.
(SP 123 - Rod. Floriano Rodrigues Pinheiro, km 15 - Tremembé - estrada que leva a Campos do Jordão)
Cheguei cismado no meio da moçada não querendo parecer intruso com meus 67 anos (hoje tenho 72) pedalando minha mountain entre uma absoluta maioria de speederos.
Depois de 15 km rumo a Campos do Jordão você encara mais uns 15 de serra, sem refresco até santo Antonio do Pinhal, atravessa a cidade, nova pirambeira, depois um trecho bucólico e caipira e outra subida de serra pela estrada velha, sem refresco, aí por uns 12 quilometros até chegar em Campos. Aí é descer até o vale zunindo a brisa pelas ventas por 20 quilometros e mais os 15 do pé da serra até o retorno ao Castelão, somando 83 no cateye. Desistências pelo caminho, carros de apoio catando pregos e eu chegando entre os que chegaram. Alguns moços se chegam, puxam prosa e a inevitável pergunta sobre a idade e qual o segredo. Penso, mas não respondo: ah! o segredo é o Barão, meu pai.
Olímpia era uma cidade pequena, dividida e atravessada pelo bosteiro Olhos D´Água. Numa metade ficava o centro e o jardim da matriz, na outra, o jardim da igrejinha, o bairro do Pito Aceso, a estação da São Paulo/Goiás e algum comércio espalhado, de modo que pra qualquer lugar que se fosse, ou se subia, ou se descia.
Essa pirambeira inibia o uso das magrelas. Não inibia meu pai. Tinha sua Phillips inglesa preta, pois opções de cores não havia, assim como não havia bicicleta fabricada por aqui.
Certa vez Barão foi notícia de primeira página publicada na Voz do Povo. “Colisão de bicicletas na esquina da São João com a Jorge Tibiriçá acidenta dois cidadãos olimpienses.”
Fratura de fêmur e meu pai foi pra Barretos fazer um implante de cabeça de fêmur por conta do antigo INPS. Uns dias de hospital, chegou em casa mancando e muito bravo com os médicos que o proibiram de pedalar, além de o deixarem com uma perna mais curta. Imaginou a diferença, cortou uns calços de papelão, enfiou no sapato e andava sem mancar. Aos poucos foi diminuindo a altura dos calços até eliminá-los de vez. A perna se ajeitou, nunca mais mancou. Voltou a
pedalar.
Ah! O segredo. Quando nas trilhas, nos desafios das pirambeiras, logo à minha frente vai pedalando meu pai, na sua Phillips preta, sem câmbio, apenas uma catraca 22 atrás, sem sapatilha clipada no pedal, sem selim com gel e canaleta pra proteger a próstata, sem capacete, sem bermuda anatômica e forrada pra proteger o saco e a bunda, sem camisa em tecido que ventila e elimina o suor, sem isotônicos na caramanhola, sem caramanhola, sem luvas, sem cateye e sem tanto mais. Vai de calça, cueca, cinta e camisa com caneta no bolso. Vai de sapato com cadarço, meia Lupo serzida no ovo, presilha prendendo a barra da calça pra não engastalhar na corrente.
Vai bem na minha frente, ainda hoje ensinando o caminho.
Otoni Gali Rosa
Publicado por Paulo de Tarso - Blog Sampa bikers em 18/01/11
Esse ciclista é um verdadeiro atleta waw!
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